Novos acordos com trabalhadores, acordo para garantia de serviços e site para tirar dúvidas dos consumidores: o que a saída da Ford do Brasil vai impactar para os brasileiros.
Texto: Bárbara Lira
Em janeiro, a Ford anunciou o fechamento das três fábricas restantes instaladas no Brasil: Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE). Aqui no Brasil, a empresa manterá o Centro de Desenvolvimento de Produto, localizado na Bahia, e o Campo de Provas em Tatuí, São Paulo.
Com o fechamento das plantas, a marca norte-americana encerra a produção de EcoSport, Ka Hatch, Ka Sedan e Troller, que vão sair de linha assim que seus estoques acabarem. A partir disso, a marca vai praticar apenas o comércio de modelos importados, como já acontece com a Ford Ranger, por exemplo, que vem da Argentina.
A notícia da saída da Ford o Brasil pegou de surpresa, não só os quase 5 mil funcionários que serão demitidos, mas também os clientes da montadora. Inclusive, a fabricante garantiu que, se caso um comprador tenha desistido da compra de um Ford zero-quilômetro após o anúncio de fechamento das unidades das fábricas, poderá ser solicitado o cancelamento da aquisição.
O que diz o Código de Defesa do Consumidor
É importante ressaltar que, nesse caso, de acordo com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), mesmo diante da descontinuidade dos produtos, o fabricante continua obrigado a atender o consumidor. O artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), pontua que o cliente tem direito de exigir do fornecedor o conserto do produto ou exigir o dinheiro quando a reparação não for possível.
Já o artigo 32 assegura que os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto.
Além disso, tramita no Congresso Nacional um projeto de lei de autoria do senador José Maranhão (MDB-PB), que obriga fabricantes e importadores de produtos a manterem componentes e peças de reposição a venda, mesmo depois de interrompida a produção e\ou importação, por um prazo mínimo de 5 anos. Mas, até o momento desta publicação, o PL não tem validade.
Novas decisões sobre o caso
Na última terça-feira (9), o Procon-SP publicou em seu site oficial um comunicado referente ao Termo de Compromisso assinado pela Ford, que concordou em se comprometer a manter assistência ao consumidor com “operações de vendas, serviços, assistência técnica, peças de reposição e garantia para seus clientes.”
Apesar de ser firmado em São Paulo, o termo é válido por todo o território nacional e concede o direito até “o fim da vida útil” dos veículos da marca, sem dizer ao certo se há um prazo determinado. A Ford ainda acordou que irá criar um canal de contato com o Procon-SP para tratar das questões coletivas, a fim de evitar que, no futuro, questões e reclamações possam ser colocadas na Justiça.
O comunicado do Procon-SP também traz o posicionamento do diretor jurídico da Ford, Luís Cláudio Casanova, que diz que o compromisso com o órgão “dá a certeza de que os nossos consumidores saberão da seriedade do nosso compromisso de atender as demandas de todos os consumidores Ford, que deverão procurar o Procon-SP ou entrar em contato pelos nossos canais de atendimento”.
Além do canal de atendimento com o Procon-SP (que ainda não teve funcionamento explicado), a Ford disponibiliza em seu site oficial uma série de perguntas e respostas para sanar possíveis dúvidas de seus clientes. Lá, podem ser encontradas respostas sobre se montadora está realmente saindo do Brasil ou se os modelos serão mais desvalorizados com a saída do Brasil, por exemplo.
O portal também afirma que a marca continuará ativa e presente no Brasil e na América do Sul com sua rede de concessionárias, prestando assistência total ao consumidor.
Procurada pela reportagem do InstaCarro, a Ford se posicionou mantendo o discurso de que “continuará fornecendo assistência total ao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia para seus clientes no Brasil e na América do Sul.”
Saindo aos poucos
Nos últimos anos, a Ford, que é a criadora do conceito de linha de montagem (Fordismo), já vinha perdendo espaço no mercado.
A empresa foi a primeira montadora de automóveis estrangeira a atuar no Brasil, em 1919. O sinal mais forte de que a saída da Ford do Brasil era iminente foi dado há menos de dois anos, em fevereiro de 2019, quando a empresa decidiu sair do negócio de caminhões, além de fechar a fábrica do ABC paulista. A partir daí a empresa iniciou um processo de enxugar o catálogo de veículos de passeio oferecidos no Brasil. Modelos como o sedan grande Fusion e as famílias Focus e Fiesta, com carrocerias hatches e sedans, foram deixando o mercado de novos gradativamente.
Saindo do mercado de pesados e perdendo força entre os automóveis leves, a fabricante norte-americana iniciou seu processo de decadência. A apostas foram concentradas na família Ka e no SUV compacto EcoSport, que sem apresentar grandes novidades, novas gerações ou reestilização visual, começaram a perder mercado.
Os dados levantados pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) nos últimos anos comprovam a perda de mercado da marca entre os automóveis:
Segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), no ranking de janeiro de 2021, a Ford foi responsável por apenas 4% do total dos automóveis vendidos no Brasil. Na categoria Comercial Leve, a montadora tem só 6% das vendas, contra 51% da primeira colocada Fiat.
Se comparado ao mesmo mês de 2020, é notável que o mercado Ford não está em seus melhores dias há tempos. Na categoria Automóveis, a montadora obtinha 8% das vendas nacionais, e nos Comerciais Leves, apenas 5%.
Além disso, considerando o acumulado do ano, a montadora perdeu poder de venda pelo segundo ano consecutivo nas categorias Automóveis e Automóveis e Comerciais Leves.