Última evolução de um projeto originário da marca francesa, o motor CHT seguiu vivo até os anos 1990 no mercado brasileiro
Entre os anos 1970 e 1990, o mercado brasileiro foi o lar de vários projetos de carros que só existiram por aqui, numa lista com modelos como o esportivo Volkswagen SP2 e o Ford Corcel.
Mas essa relação de “jabuticabas”, nome da fruta que é usado como uma expressão para definir produtos tipicamente brasileiros, não se limita apenas aos automóveis prontos.
Um exemplo disso é o motor CHT. Propulsor que equipou todos os modelos de passeio da Ford nos anos 1980 e seguiu em uso até meados dos anos 1990.
Origem
O CHT era uma evolução do propulsor Renault Sierra (também conhecido como Cléon-Fonte), lançado nos anos 1960 na França.
A Ford do Brasil recebeu esse projeto com a aquisição da Willys Overland e do “Projeto M”. Derivado do Renault 12, o modelo chegou ao mercado em 1968 como o Corcel.
Em variações 1.3, 1.4 e 1.6, esse motor Renault equipou apenas a linha Corcel até 1981, quando chegou também ao Del Rey.
Motor CHT
Em 1983, o motor Renault foi atualizado pela engenharia local da Ford. O objetivo era adequar o propulsor para equipar no Brasil o Escort de 3ª geração.
Como resultado dessas mudanças, o motor ganhou o nome CHT, do inglês “Compound High Turbulence”. Redesenhadas, as câmaras de combustão promoviam o turbilhonamento da mistura para melhorar o consumo de combustível.
O novo motor CHT era elogiado pela suavidade no funcionamento e pelo bom rendimento em baixas rotações. Mas mesmo atualizado, esse era um conjunto de características conservadoras já para a época.
Preservava, por exemplo, o comando de válvulas no bloco e corrente metálica. O contemporâneo EA 827 da Volkswagen (o conhecido motor AP) já trazia comando no cabeçote e correia dentada.
A consequência disso eram os baixos números de potência do CHT mesmo na variação destinada ao esportivo Escort XR3. O 1.6 a etanol com comando mais bravo desenvolvia 81,7 cv.
Inicialmente disponível em variações 1.3 e 1.6, o CHT tomou o lugar do Renault Sierra no restante dos carros de passeio vendidos pela Ford do Brasil.
Em 1987, com o lançamento do Escort de 4ª geração, o propulsor passou por uma nova atualização e passou a ser o CHT E-Max. O objetivo era melhorar ainda mais o consumo de combustível e a entrega de torque.
Na ocasião, 1.6 a etanol destinado ao Escort XR3 chegou a 86,1 cv. Marca mais alta atingida pelo CHT.
Naquele mesmo ano de 1987, com a formação da Autolatina (joint venture entre a Ford e a Volkswagen na América Latina), o propulsor da Ford foi parar também nos modelos da marca alemã.
Com melhorias e o nome de AE-1600, passou a equipar as versões de entrada de Gol, Voyage Parati e Saveiro.
CHT 1.0 e motor AE
Em 1990, a mudança na legislação que abriu caminho para os carros com motor de menos de 1.000 cm³ fez a Autolatina mexer mais uma vez no CHT. Agora numa variação 1.0 a gasolina de 50 cv e o nome AE-1000, chegou ao Volkswagen Gol 1000 e ao Ford Escort Hobby.
Esse mesmo propulsor, equipado com injeção eletrônica monoponto, chegou ao Volkswagen Gol de 2ª geração, último carro a abandonar o CHT, no início de 1997.
Com o fim da Autolatina, o motor CHT nos Volkswagen cedeu espaço aos motores AP (EA 827) e EA 111 (o motor AT). Nos Ford, o CHT deu lugar ao Endura-E e ao moderno Zetec-SE de 16V.
CHT francês
O motor Renault Sierra evoluiu também na Europa. Com novidades como as câmaras de combustão hemisféricas, teve por lá uma vida mais longa do que o CHT no Brasil.
Lançado na França em 1962, fez sua estreia no cupê e no conversível Renault Floride. Era um 1.0, lançado com o objetivo de substituir o propulsor Billancourt, usado em modelos como o Dauphine e Gordini.
Pouco tempo depois, chegou em toda a linha de carros de passeio da marca francesa, incluindo no esportivo Alpine A110, que fez sucesso em competições nos anos 1960.
A partir dos anos 1970, a marca francesa cogitou trocar o Sierra por um propulsor mais atualizado. Mas, a robustez, baixo custo de produção e aceitação por parte dos consumidores fizeram a Renault manter o Sierra em linha.
Nos anos 1980, o Sierra teve inclusive uma variação 1.5 turbo com injeção eletrônica, que equipava o modelo Renault Maxi 5 Turbo de rali e desenvolvia impressionantes 385 cv.
Mesmo com o uso de tecnologias como o catalisador e a injeção eletrônica, o “CHT europeu” começou a ser abandonado na linha francesa da Renault nos anos 1990, substituído pelo novo propulsor “Energy”. O último modelo equipado com o Sierra foi o hatch Twingo, em 1996.
Outros mercados
Depois do fim no Brasil e na França, o Sierra seguiu em produção em países da América do Sul (Argentina e Colômbia), Turquia e Romênia, em variações 1.6 exclusivas.
O último desses propulsores deixou de ser fabricado na Romênia em 2004, quando saiu de linha o último Dacia 1310, como era conhecido o Renault 12 produzido no país da Europa Oriental.
One Comment
Este foi, sem dúvidas, um motor que levou muitos brasileiros a realizarem o sonho de ter um carro com bom custo – beneficio.