Conheça o que é e quais são as características da suspensão multilink, que normalmente é visto em modelos mais caros, mas que equipa e já equipou vários carros nacionais.
Toda suspensão possui o mesmo objetivo: manter a banda de rodagem do pneu em contato permanente com o solo, garantindo assim a estabilidade do veículo. Com a suspensão multilink, formada por braços independentes, as peças móveis têm liberdade de trabalhar para manter a estabilidade de cada roda sem interferência do outro lado do eixo.
Quando as duas rodas de um mesmo eixo são ligadas uma à outra diretamente por um elemento rígido – um eixo convencional, no caso -, o movimento de uma roda interfere na outra e afeta a estabilidade do veículo. Com a suspensão multilink, as rodas são presas ao veículo por braços oscilantes sem conexão com o lado oposto, o que permite a cada uma acompanhar o relevo do solo com mais precisão.
Existem vários tipos de suspensões independentes em veículos leves, e até há certa discussão sobre nomenclaturas. A suspensão independente mais comum é a do tipo McPherson. Ela é diferente da suspensão multilink porque possui uma torre vertical presa à carroceria, formada por amortecedor e mola, que é ligada diretamente à roda pela manga de eixo, e apenas um braço oscilante fixado ao quadro de suspensão.
O tipo McPherson está presente em quase todos os automóveis compactos e médios com tração dianteira fabricados no Brasil. São poucas as exceções. Porém, como o outro par de rodas não precisa tracionar nem esterçar, o eixo traseiro nesses veículos costuma ser rígido ou de torção, principalmente, em carros compactos que dispensam grandes pretensões em desempenho ou conforto
Eixos rígido ou de torção possuem construções mais simples, baratas e robustas que o sistema de suspensão multilink, sem perda tão grande de desempenho quando se leva em conta a aplicação em veículos de baixo custo, já que a tecnologia automotiva de amortecedores e molas, hoje, é muito superior do que há 30 anos.
Mas em sedãs médios e grandes, SUVs de luxo, picapes e esportivos, as vantagens da suspensão independente de múltiplos braços são indispensáveis. E não pense que a suspensão multilink é coisa só de “carro importado”.
Função da suspensão multilink
A suspensão multilink costuma ligar cada roda ao veículo através de uma combinação de braços laterais e longitudinais, fixados em diferentes pontos na carroceria e no quadro – ou eixo – de suspensão. As variações entre essas combinações podem ter nomenclaturas específicas e mudam quando o eixo é esterçante, trativo ou ambos.
Um dos tipos mais comuns de suspensão multibraço é a conhecida como triângulo duplo ou “duplo A”. Ela possui dois braços em forma de “V” (um superior e um inferior) que se assemelham a um triângulo. Já a multilink é inspirada na suspensão triângulo duplo, mas em vez de dois braços, ela faz uso de três ou mais, que são mais espaçados entre si e promovem liberdade de movimento.
O número de braços permite controlar o movimento em múltiplas direções, mantendo as rodas sempre em contato com o solo. O sistema multilink permite melhor alinhamento das rodas ao piso e menor perda de contato.
Essa suspensão permite incorporar melhor dirigibilidade e conforto ao veículo como, também, segurança. Afinal, com a maior estabilidade e aderência dos pneus, melhora-se a agilidade em manobras de evasão, contorno de curvas e aumenta-se a capacidade de frenagem.
Não só para veículos mais refinados a suspensão multilink faz diferença. Picapes de diversos tamanhos também se desenvolveram para receber suspensões multilink ou “duplo A” porque, também, esses sistemas favoreciam a adoção de transmissões integrais mais avançadas.
Em alguns utilitários voltados ao uso fora-de-estrada, sistemas do tipo multibraço também ajudam na transposição de obstáculos e irregularidades nas vias ao permitir o movimento independente das rodas para se adaptar aos diferentes ângulos da condução.
Adoção do sistema multilink em série
A variedade de tipos e conceitos de suspensão dificulta determinar quando a suspensão multilink de fato surgiu como a conhecemos hoje. Em matéria de suspensão independente, ela existe em automóveis desde os anos 20, mas em eixos dianteiros.
O primeiro veículo de rua a ser apresentado com sistema multibraços no eixo traseiro foi o protótipo Mercedes-Benz C111 em 1969. Embora algumas unidades tenham sido construídas, ele nunca foi produzido em série e serviu mais para a marca alemã testar novas tecnologias, inclusive de propulsão.
Embora não fosse o primeiro de fato a ter essa configuração, o Mercedes-Benz 190 (W201) ficou conhecido como o modelo que marcou a introdução da suspensão multilink como standard de qualidade entre sedãs médios e grandes no mercado.
Fabricado a partir de 1982, sua suspensão traseira com multilink de 5 pontos serviu de base para os futuros dos sedãs da marca e obrigou a concorrência a adotar a mesma solução, principalmente entre sedãs de médio e grande porte nos mercados europeu e japonês.
Aqui no Brasil, sedãs médios advindos de projetos mundiais da década de 2000 como o Ford Focus, Honda Civic e o Volkswagen Jetta de sexta geração ganharam fama de excelentes automóveis para se conduzir, em grande parte, por se diferenciarem da concorrência ao adotar suspensão independente nas quatro rodas, incluindo sistema multilink no eixo traseiro.
Outros veículos compactos, como o Volkswagen Golf e até o JAC J3 (!), chegaram a trazer a multilink no eixo traseiro para o consumidor brasileiro menos abastado.
Mas a principal desvantagem da suspensão multilink é o custo, tanto do projeto, que é mais complexo, como da construção e manutenção em si. Enquanto o Focus saiu de linha em 2018 no Brasil, Golf e Jetta perderam a multilink em favor do eixo de torção suas novas gerações quando foram trazidos para o Brasil (com exceção do Jetta GLI e do Golf GTE, este último também já fora de linha). Já o atual Honda Civic sairá de linha em 2022 e seu substituto, já apresentado no exterior, não será fabricado no Brasil.
Com a crise do mercado dos sedãs, ficou ainda mais difícil a vida de quem quer apreciar a qualidade condução que uma boa suspensão traseira multilink. Para os “mortais” resta apenas o Toyota Corolla (que adotou o sistema em sua mais recente geração) ou o mercado de veículos usados.
2 Comments
Fiquei surpreso muito bom não conhecia mais agora vou acompanhar
Gostei muito da reportagem referente a suspensão Multilink. Aprendi bastante.
Parabéns pela bela explicação.
Grato.