Rejeitado por muitos anos, uso da suspensão a ar nos automóveis acabou ganhando impulso com o avanço da eletrônica.
Texto: Evandro Enoshita
Muito popular atualmente no mundo da personalização de carros, a suspensão a ar é um componente que é mais antigo do que se imagina, tendo sido criado como uma das primeiras alternativas “modernas” às primitivas suspensões metálicas herdadas das carruagens.
Os primeiros projetos de suspensão a ar foram desenvolvidos na primeira década do século 20, nos Estados Unidos e no Reino Unido. Seu primeiro uso veicular foi nas motocicletas da britânica Associated Springs Ltd., que entre 1909 e 1914 produziu motos com suspensão a ar na dianteira e na traseira. Mas o equipamento composto por bolsas de borracha cheias de ar no lugar das molas convencionais só foi chegar aos automóveis pelas mãos do francês George Messier, que nos anos 1920 desenvolveu e o colocou em produção o primeiro conjunto do tipo para uso automotivo, equipando inicialmente carros de outras marcas e depois novos automóveis desenvolvidos por sua empresa.
Suspensão a ar: tecnologia inovadora
A suspensão a ar era uma tecnologia inovadora em uma época em que os amortecedores telescópicos ainda não existiam e os carros usavam as molas metálicas semi elípticas. O resultado eram veículos que obtinham conforto em rodagem bem superior à média. Mas a perda de eficiência do sistema de altas velocidades e a baixa durabilidade dos componentes acabou atrapalhando as vendas dos carros de Messier. Em 1931, o francês resolveu abandonar o ramo de automóveis para se concentrar na produção de trens de pouso para as aeronaves.

Demorou até os anos 1940 para alguém voltar a investir na suspensão a ar. O engenheiro americano William Bushnell Stout decidiu empregar o sistema no Stout Scarab, um protótipo que além da suspensão com bolsas de borracha trazia diversas inovações para a época, como a carroceria monovolume em fibra de vidro. Mas o primeiro automóvel “moderno” equipado com o sistema foi o Cadillac Eldorado Brougham, em 1957, que empregava sensores para compensar as oscilações da pista e de carga para manter o carro nivelado, ao mesmo tempo com grande conforto para os ocupantes.
Pouco tempo depois, outras marcas de automóveis nos Estados Unidos passaram a oferecer o equipamento como um argumento para vender carros. Mas o custo proibitivo e a complexidade do sistema pneumático acabaram limitando o alcance da suspensão a ar, que foi abandonada pelos americanos já nos anos 1960. Os fabricantes europeus insistiram na ideia por mais alguns anos apenas em modelos de luxo como os Mercedes-Benz Mercedes-Benz 300SE e 600. Mas os mesmos fatores que mataram a suspensão a ar nos Estados Unidos também pesaram e acabaram resultando no abandono da tecnologia na Europa.
A partir da década de 1980, o avanço tecnológico e a criação dos novos amortecedores eletrônicos permitiu o desenvolvimento de conjuntos de suspensão metálicos que pudessem ao mesmo tempo garantir um bom nível de conforto e um comportamento dinâmico favorável ao uso mais intenso do veículo. Apesar desse cenário desfavorável ao retorno da suspensão a ar, já que o sistema havia sido pensado inicialmente para garantir mais conforto aos ocupantes de um veículo, a tecnologia voltou a ser considerada pelos fabricantes. A concorrência com as suspensões metálicas modernas fez com que a suspensão a ar ficasse passasse a ser empregada em aplicações que exigem a variação da altura do veículo, como nos SUVs. Bolsas de ar e compressor começaram a trabalhar integrados à rede de sistemas eletrônicos do veículo, alimentados com informações de sensores eletrônicos e permitindo acertos rápidos para manter a altura e rigidez de acordo com a velocidade e o tipo de piso em que o veículo trafega. Características que tornaram a suspensão a ar populares também em veículos de uso comercial como ônibus e caminhões.
Essa evolução tecnológica da suspensão a ar permitiu também a criação de kits mais acessíveis, vendidos como acessórios para veículos já em produção e alimentados por pequenos compressores elétricos, embora sem a integração com uma rede de sensores. O seu uso acabou se popularizando no mercado de customização, por permitir a variação da altura do veículo até níveis extremamente baixos, que seriam impossíveis com o uso de uma suspensão metálica.
Da suspensão a ar para a hidropneumática
Apesar de ter sido abandonada por Messier, a ideia básica da suspensão a ar acabou aperfeiçoada pela montadora francesa Citroën, que em 1954 lançou o sistema de suspensão hidropneumática no conjunto traseiro do modelo Traction Avant. Um ano depois, seria a vez do modelo Citroën DS estrear a tecnologia nas quatro rodas.
No lugar das molas de borracha enchidas com ar, o sistema hidropneumático utilizava esferas metálicas com um fluído hidráulico e nitrogênio, em um circuito pressurizado por uma bomba. Além de permitir a variação de altura da carroceria e um conforto superior em rodagem, o sistema resolvia a deficiência principal da suspensão a ar primitiva, garantindo também um ganho em estabilidade para o veículo. No caso do DS, era inclusive possível rodar sem uma das quatro rodas. Por alguns anos, a tecnologia acabou fazendo mais sucesso do que a suspensão a ar entre os fabricantes europeus, equipando carros da Rolls-Royce e da Mercedes-Benz, que adotou a tecnologia em substituição justamente à suspensão a ar.
A partir dos anos 1980, a suspensão hidropneumática passou a contar com controles eletrônicos, que deixaram o sistema ainda mais eficiente. Mas foi essa evolução tecnológica que por fim acabou matando a tecnologia criada pela Citroën. Em 2015, o fabricante francês anunciou que estava abandonando o sistema, que passou a ser considerado obsoleto com a evolução dos amortecedores eletrônicos e, ironicamente, da suspensão a ar.
E na hora de vender um carro com suspensão a ar?
Isso depende. Primeiro, se o sistema de suspensão é original do veículo ou colocado como uma modificação e, segundo, se funciona direito.
Quando o sistema é original e funciona bem, a chance do veículo ser valorizado é grande. Já nos casos de modificações na originalidade, não basta só funcionar corretamente para o carro poder ser vendido, é preciso combinar outros dois fatores: que a modificação tenha sido regulamentada junto ao órgão de trânsito e que o interessado na compra se interesse neste tipo de modificação.
Por isso, o recomendado é retornar a originalidade do veículo antes de vender o seu carro. O processo de avaliação da InstaCarro, por exemplo, segue todas as diretivas do Detran e, caso haja modificações não regulamentadas e/ou sistemas com falha na operação, isso fará com que o veículo tenha precificação abaixo da tabela do mercado de seminovos.