O visual do Renault Sandero GT Line é de carro esportivo, mas vem com motor 1.0 três cilindros de 82 cv que bebe pouco combustível. Será que vale a compra?
A prática das montadoras de ter veículos que vestem uma roupa diferente, mas na verdade não entregam o que aparenta já é antiga no mercado.
Popularizada no início dos anos 2000, tornou-se regra (não exceção) o lançamento dos SUVs que não podiam enfrentar o fora-de-estrada e dos carros com versões esportivas que não tinham “motores envenenados”.
Mas uma das montadoras que quebrou esse ciclo foi a própria Renault com o Sandero R.S.. Modelo derivado de um carro popular, recebeu tantos upgrades da divisão esportiva da Renault (incluindo um motor inédito no modelo) que sim, era (e por enquanto ainda é) um esportivo de verdade.
E é essa mesma Renault que também aposta em um modelo que traz roupagem esportiva, mas com mecânica igual ao da antiga versão de entrada, Sandero Zen: o 1.0 três-cilindros de 82 cv.
Como todo esportivo de visual, a intenção é ser bonito para quem vê, mas que seja um carro útil para o dia a dia e, em tempos de aumento no preço dos combustíveis, quanto mais econômico, melhor. E nesses dois critérios o Renault Sandero GT Line é nota 10.
Design do Renault Sandero GT Line
De diferente do Sandero Zen, por exemplo, o Sandero GT Line traz visual diferenciado, com rodas de liga-leve 15” (ou 16” escurecidas, como opcional, como é o caso do modelo testado), spoiler traseiro e para-choque traseiro com difusor inspirado no Sandero R.S..
Por dentro, há um discreto emblema “GT Line” no painel de instrumentos, um aro azul nas saídas de ar, volante revestido em couro e o símbolo “Renault Sport” bordado no encosto de cabeça dos bancos.
Parece pouco, mas quando colocamos um GT Line ao lado do Zen, por exemplo, o “esportivo” realmente se destaca.
Desempenho do Sandero GT Line
É aí que as coisas começam a se equiparar. Como já disse lá em cima, o Sandero GT Line vem com o motor 1.0 SCe de três cilindros de 82 cv a 6.300 rpm (com etanol).
Se os números parecem pouco, no uso urbano o Sandero GT Line cumpriu o que era preciso quando pisei fundo no acelerador.
A vantagem é que este motor três-cilindros sobe de giro rápido e o câmbio manual de cinco marchas tem relações curta, e ambos os fatores ajudam a deixar o hatch espertinho no trânsito.
Assim, você vai conseguir fazer ultrapassagens e enfrentar subidas íngremes, mas para isso o motor vai gritar alto e isso, para muita gente, é um incômodo. Para mim não é. Se fez aquilo o que eu esperava, eu fico satisfeito.
Na estrada ele também não decepcionou. Como o câmbio é curto e o motor se enche de razão em giros altos, dá para se brincar um pouquinho.
O problema do GT Line é alcançar a velocidade de cruzeiro na estrada saindo da imobilidade. O seu 0-100 km/h, por exemplo, ocorre em longos 13,2 segundos.
Agora imagina se você subir uma serra íngreme e não reduzir as marchas na hora certa e deixar o giro do motor cair demais? Pois é, eu fiz isso.
Em uma retomada na serra saindo de 40 km/h para 80 km/h, o que não é muito, o Sandero GT Line conseguiu chegar lá em sonolentos 23 segundos. É, eu medi.
Consumo de combustível
É no consumo de combustível que realmente o Sandero GT Line encontra o seu lugar de conforto.
Na cidade e com etanol no tanque, rodei sob trânsito pesado e com ar-condicionado ligado e, claro, sem me preocupar em economizar combustível. Sua média ficou em 9,4 km/l.
Na estrada, subindo serra e fazendo tudo o que tinha direito, o consumo com etanol ficou em 13,6 km/l.
Itens de série do Renault Sandero GT Line
O GT Line vem com os itens necessários para você ter um bom convívio com ele, nem a mais, nem a menos.
Com destaque na lista de itens de série, estão o ar-condicionado, airbagas dianteiros e laterais, direção eletro-hidráulica, vidros e travas elétricas e central multimídia com conexão e espelhamento de smartphones pelo Android Auto ou Apple CarPlay.
Vale a pena comprar o Sandero GT Line?
Acho que o maior segredo para ter uma boa relação com um veículo é saber “vesti-lo”, assim como você faz com uma blusa nova.
O paralelo que eu faço é: quando você compra uma blusa nova você veste, vê se ela combina com o seu estilo, entende o peso da malha, onde ficam as costuras e se você se sente confortável dentro dela.
Depois que você entende isso e decide comprar a blusa, você sabe que vai poder usá-la em determinadas situações, em determinadas temperaturas e em determinados contextos. Se você fugir disso, você vai se sentir incomodado. Não tem jeito.
É ruim vestir uma blusa que não te veste bem, não é verdade? Seja uma menor que o seu número ou maior, em ambos os casos, não vai se sentir confortável.
Em um carro como o Sandero GT Line, é a mesma coisa. Você precisa entender o que você quer de um carro e colocar na balança a sua expectativa entre desempenho, conforto, consumo de combustível e, claro, design.
Se você pensa em um hatch para uso urbano, econômico e com bom espaço interno, o Sandero GT Line oferece ainda um pacote visual bem agradável.
Agora, se desempenho é essencial para você, mesmo que o GT Line não faça feio em determinadas situações, não tem jeito, vai precisar pensar em outros modelos ou até mesmo no esportivo raiz: o Sandero R.S..
Eu senti falta de uma câmera de ré e de um retrovisor com ajuste elétrico. E só.
Outras opiniões – Evandro Enoshita
Sabe aquela pessoa que compra um carro 1.0 pelado e começa a equipá-lo? Pois o Sandero GT Line é feito exatamente para este público.
Em termos de visual, a Renault acertou na receita e criou um carro com uma cara bem mais interessante que a da nova versão de entrada, a série especial S Edition, ou da antiga Zen.
É uma pena que o tempero esportivo termina do lado de fora. O GT Line bem que poderia ter os bancos com espuma mais firme do R.S., por exemplo. Isso sem falar no belo acerto de suspensão do esportivo.
Outro ponto que me incomodou no GT Line é o preço: R$ 79.690. Mesmo que os carros usados e 0km tenham valorizado bastante desde o ano passado, esta é uma soma alta quando comparada com outros modelos do segmento de hatches compactos.
Por um pouco menos (R$ 78.960), é possível levar para casa um Chevrolet Onix LT Turbo, com o seu motor de 116 cv. Já quem estiver com um orçamento mais flexível por optar por um Hyundai HB20 Platinum, com motor 1.0 turbo de 120 cv e que parte de R$ 84.290.
É claro que nenhum deles tem o visual esportivo do Renault Sandero GT Line. Mas entregam mais desempenho e até números de consumo melhores.
Como bem disse o meu colega Fernando Naccari, você precisa entender quais são as suas prioridades antes de comprar um GT Line. Se você busca um carro com ótimo espaço interno e economia de combustível, ele é uma opção a se considerar.
Ficha técnica – Renault Sandero GT Line 1.0
- Motor: três-cilindros, flex, 12 válvulas, 999 cm3
- Potência: 82 cv a 6.300 rpm (etanol) / 79 cv a 6.300 rpm (gasolina)
- Torque: 10,5 kgfm a 3.500 rpm (etanol) / 10,5 kgfm a 3.500 rpm (gasolina)
- Câmbio: manual, 5 marchas à frente e uma à ré
- Suspensão: McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira)
- Direção: eletro-hidráulica, 10,6 (diâmetro de giro)
- Rodas e pneus: liga-leve, 195/55 R16 (versão com roda de 16″ opcional)
- Freios: disco ventilado (dianteiro) / tambor (traseiro)
- Dimensões: comprimento, 4070 mm; largura, 1733 mm; altura, 1536 mm; entre-eixos, 2590 mm
- Peso: 1.035 kg
- Tanque: 50 litros
- Porta–malas: 320 litros