A saúde do sistema de arrefecimento do motor é fundamental para garantir o bom funcionamento do veículo.
Texto: Evandro Enoshita
Fotos: Divulgação
Não há nada pior do que estar com o carro lotado para aquela viagem de feriado e ser “premiado” com as luzes de alerta e o marcador de temperatura indicando o superaquecimento do motor. Mais do que um contratempo, ultrapassar o limite de temperatura do propulsor pode resultar também em uma conta bem alta na oficina. Mas nada que alguns cuidados periódicos e a manutenção preventiva (e não a corretiva) não sejam capazes de evitar.
Além do radiador, o sistema de arrefecimento dos carros atuais é composto basicamente por mangueiras, ventoinha, bomba da água, vaso de expansão, sensor de temperatura e válvula termostática. Diferente do que muita gente imagina, o papel deste conjunto não é garantir que o motor trabalhe o mais frio possível, mas sim dentro de uma temperatura ideal (por volta de 90° C) que permita manter os componentes internos dentro da faixa ideal para obter o melhor rendimento, com menos desgaste e consumo mais baixo de combustível.
Por este motivo, poucos conjuntos de um veículo podem causar efeitos tão imediatos em caso de falha quanto o sistema de arrefecimento. Um problema em qualquer um desses componentes do sistema de arrefecimento pode provocar contratempos que vão desde o aumento do consumo de combustível até a parada do motor com uma junta de cabeçote queimada, o que pode exigir desde a retífica até a troca do cabeçote.
Para começo de conversa, um ponto fundamental é monitorar o líquido de arrefecimento. Além do nível correto, uma dica importante principalmente nos carros mais antigos ou comprados no mercado de usados é a respeito do tipo de solução que está presente no sistema. Deve-se utilizar apenas uma solução de água desmineralizada com um aditivo específico, misturado na proporção correta indicada pelo fabricante do veículo.
Caso o nível do líquido esteja muito mais baixo do que o normal, a recomendação é procurar imediatamente um mecânico, pois pode estar ocorrendo um vazamento externo, em mangueiras ressecadas ou devido a abraçadeiras gastas ou defeituosas e também em componentes como o radiador, pelos selos do motor ou no sistema de ar quente, ou até vazamentos internos, por conta da junta queimada.
Passe longe da água de torneira
O uso de água de torneira ou dispensar o uso do aditivo resultam na formação de depósitos, que obstruem as galerias de refrigeração e o próprio radiador, e na corrosão de componentes do motor e do próprio sistema de arrefecimento. Além de contribuir para a redução na vida útil das mangueiras e na formação de bolhas, que afetam a capacidade de dissipar o calor dentro do bloco do motor.
Um dos componentes que costumam sofrer bastante com o líquido de arrefecimento inadequado é a válvula termostática, que controla a circulação de água no sistema. Se ela travar aberta, o resultado será o aumento no consumo de combustível, já que o motor irá injetar mais combustível do que o normal para tentar “aquecer” o conjunto. Nos carros equipados com marcador, isso pode ser notado em trechos rodoviários ou de trânsito rápido, quando a temperatura cai para níveis muito mais baixos que os 90°C. Se ela travar fechada, a temperatura do motor irá se elevar mesmo com a ventoinha em funcionamento.
Problemas mais sérios
Mas não necessariamente um superaquecimento sem explicação é a culpa direta da válvula termostática, o que muitas vezes leva alguns “profissionais” a retirarem o componente do sistema (quem aqui nunca ouviu falar nos chamados “kit verão?). Além da falta de líquido ou da existência de bolhas no sistema, obstruções nas galerias de refrigeração do motor, de mangueiras e do radiador, e problemas na bomba de água e na ventoinha também podem provocar a elevação da temperatura.
No caso da ventoinha, ela pode ser acionada pela termostática ou diretamente pelo módulo de injeção eletrônica. No primeiro caso, basta realizar um jumper nos dois terminais para checar o seu funcionamento. Já no segundo, é necessário conectar o carro a um equipamento de diagnóstico.
Embora pareça ser um item insignificante, até a tampa do reservatório de água deve ser trocada de tempos em tempos. Na maioria dos modelos, ela fica diretamente no vaso de expansão, enquanto em carros de marcas japonesas como a Honda e a Toyota ela fica montada no radiador. Mas a função é exatamente a mesma: a de controlar a pressão dentro do sistema.
Outro sinais de problemas no sistema de arrefecimento, desta vez mais graves, são o excesso e a falta de pressão ou o desempenho do motor muito abaixo do normal, que podem indicar a existência de problemas no cabeçote ou na junta causados por um superaquecimento anterior, provocado ou não por problemas em outros componentes do sistema. Por este motivo, uma recomendação dos fabricantes é fazer a limpeza periódica do sistema de arrefecimento, que pode ser feita em conjunto com uma revisão completa dos componentes.
Diagnóstico rápido
Alguns procedimentos podem ser seguidos para identificar rapidamente a existência de problemas no sistema de arrefecimento. O primeiro deles é a medição de nível, que deve ser feita sempre com o motor frio. Preste atenção à coloração do líquido. Caso ela esteja turva ou com um tom marrom, pode ser um sinal de que existem pontos de corrosão no sistema.
Procure também por pontos de coloração esverdeada na área externa do radiador, que são um indicativo de eletrólise no sistema de arrefecimento, que desgasta as peças metálicas no sistema de arrefecimento e é semelhante à corrosão, sendo resultado direto da má qualidade do líquido.
No painel do veículo, verifique se o ponteiro da temperatura do motor atinge o nível ideal após o motor ficar ligado por no mínimo 5 minutos. Se o motor não atinge a temperatura ideal, pode ser um sinal de problemas com a válvula termostática ou os sensores de temperatura. Barulhos estranhos no compartimento do motor também podem ser um indicativo de problemas com a bomba do sistema.
One Comment
Ótimas e necessárias explicações!