Usando a mecânica do Chevrolet Opala, fabricante de equipamentos ferroviários do Rio de Janeiro criou um carro fora de série de luxo nas carrocerias cupê e conversível.
Quem viveu a década de 1970 sabe que o setor automotivo passou por altos e baixos durante esses anos. Logo após a 1ª crise do petróleo (1973), o governo brasileiro decidiu restringir a importação de veículos até a proibição total, em 1976.
Esse contexto serviu para impulsionar a produção local de modelos esportivos e de luxo. Carros cujo objetivo era ocupar o espaço deixado pelo fim da oferta de importados. Era o nascimento dos carros brasileiros fora de série.
Modelos que repetiam a fórmula de usar os conjuntos mecânicos oferecidos pelos grandes fabricantes em modelos como Chevrolet Opala e Volkswagen Fusca para fabricar automóveis capazes de atender a um público mais exigente ou em busca de algo exótico.
Receita que fez sucesso até o retorno das importações, em 1990. Além de marcas como Puma e Miura, outra empresa que marcou época no mercado de carros fora de série foi a Santa Matilde. Uma fábrica de componentes ferroviários e agrícolas que viu uma oportunidade no fim dos importados.
História
Com sede em Petrópolis (RJ), a Santa Matilde tinha fábricas em Três Rios (RJ) e Conselheiro Lafaiete (MG). O dono da empresa, o empresário Humberto Pimentel, foi afetado pela proibição dos carros importados e colocou a companhia para projetar um carro de luxo,
O projeto do veículo, que teria o mesmo nome da empresa e componentes mecânicos do Chevrolet Opala, teve como responsável Ana Lídia, filha de Humberto Pimentel. Já quem cuidou inicialmente do desenvolvimento do modelo foi o preparador Renato Peixoto. Posteriormente foi substituído por Fernando Monnerat.
Em 1978, o Santa Matilde SM 4.1 surgiu no Salão do Automóvel, fazendo muito sucesso já em sua estreia. O carro estreou apenas na carroceria cupê (conhecida como Hatch), com o motor 250S.
Era um 4.1 de seis cilindros e 171 cv, que era a opção mais potente disponível para o Opala nos anos 1970. Vinham também do Chevrolet o câmbio manual de quatro marchas e os sistemas de direção e suspensão.
Já o interior se destacava pelo luxo, com forrações de couro e painel de instrumento completo, seguindo a linha dos modelos europeus da época. Algo esperado para um carro que custava 330.000 cruzeiros em maio de 1978 (cerca de R$ 430 mil em valores atuais). Valor muito maior do que o pedido na mesma época pelo luxuoso Ford Landau.
Medindo 4,18 metros de comprimento, o SM 4.1 era quase 50 cm mais curto que um Opala Cupê e trazia uma carroceria de fibra de vidro para quatro passageiros. Em um teste da revista Quatro Rodas, atingiu 180 km/h e acelerou de 0-100 km/h em 12 segundos. Boas marcas para a época.
Evoluções do Santa Matilde
O modelo não deixou de incorporar evoluções ao longo dos anos. Além de retoques estéticos, teve mudanças profundas no interior e na carroceria. Em 1983 ganhou uma opção conversível. Enquanto o “hatch” teve a traseira modificada e se tornou o SM Coupé.
O modelo teve também a opção do motor Chevrolet 2.5 de quatro cilindros a etanol, com ou sem turbo. Opção que não foi tão popular quanto o 4.1 (comum ou 250S).
No total, a produção do SM foi de 937 unidades do modelo, sendo 207 apenas no ano de 1986. Considerado o melhor em termos de produção para o Santa Matilde.
Em 1988, o modelo começou a ser produzido apenas sob encomenda. Situação que só piorou com a retomada das importações de automóveis. Algo que também afetou a fabricação de outros fora de série brasileiros do período.
A produção foi até 1997, quando foi produzido um último exemplar do SM. Um carro com motor 3.0 do Chevrolet Omega e várias modificações na carroceria encomendadas pelo comprador.